O que muda com o Implanon no SUS
A partir de outubro de 2025, mulheres no Brasil poderão colocar o implante contraceptivo de graça nas Unidades Básicas de Saúde. O Ministério da Saúde reservou R$ 245 milhões e planeja distribuir 1,8 milhão de unidades até 2026, começando com 500 mil ainda neste ano. Na rede privada, o dispositivo custa de R$ 2 mil a R$ 4 mil. Com a oferta pública, um método caro e muito eficaz finalmente entra no radar de quem mais precisa.
O Implanon é um bastonete flexível, do tamanho de um palito de fósforo, inserido sob a pele do braço. Ele libera uma dose baixa e contínua de hormônio por até três anos e dispensa rotina diária. Não exige lembrar de pílula, adesivo ou data de injeção. A fertilidade volta rápido após a retirada, o que dá autonomia para decidir quando engravidar.
Na prática, a eficácia é muito alta: falha inferior a 1 a cada 100 usuárias por ano, bem abaixo de métodos que dependem do uso correto todos os dias. Isso importa para quem vive rotina corrida, trabalha em turnos, cuida de filhos ou tem dificuldade de acessar serviços com frequência. O dispositivo não protege contra infecções sexualmente transmissíveis, então a recomendação é manter o uso de preservativo em relações de risco.
A decisão de incorporar o método foi tomada pela Conitec a pedido do Ministério da Saúde. A pasta vai orientar e treinar equipes das UBSs para organizar a oferta. A aposta é reduzir gravidezes não planejadas, com foco em adolescentes e mulheres em maior vulnerabilidade, o que ajuda a enfrentar partos prematuros, interrupções escolares e desfechos de saúde piores para mãe e bebê.
O procedimento é simples e ambulatorial. Dura poucos minutos, com anestesia local. A mulher sai da unidade no mesmo dia, com um pequeno curativo. O local pode ficar sensível por algumas horas, mas a rotina costuma voltar ao normal rapidamente. Quando completa três anos, o implante é removido por profissional treinado. Se a pessoa quiser continuar com o método, um novo pode ser colocado na mesma consulta, se houver disponibilidade.
Como vai funcionar na prática
O Ministério da Saúde vai publicar orientações para padronizar o atendimento. Estados e municípios devem organizar a fila, treinar equipes e definir estratégias de busca ativa. Em lugares com maior demanda, a distribuição tende a ser escalonada. Prioridades podem incluir adolescentes, puérperas, mulheres que tiveram aborto recente, quem usa métodos com falhas recorrentes ou vive em áreas com baixo acesso a serviços.
O que esperar no atendimento:
- Primeira conversa na UBS para entender histórico de saúde, medicamentos em uso e preferências. É um espaço para tirar dúvidas e comparar métodos.
- Avaliação clínica para checar contraindicações, descartar gestação e orientar sobre efeitos esperados.
- Inserção do implante com anestesia local, curativo simples e instruções de cuidado nas primeiras 24–48 horas.
- Agendamento de retorno, se necessário, para avaliar adaptação e manejo de sangramentos irregulares.
Quem geralmente pode usar: a maioria das mulheres, inclusive adolescentes e quem está amamentando (conforme avaliação clínica). Quem não deve usar: quem tem câncer de mama atual, sangramento vaginal sem diagnóstico, doença hepática grave ou trombose ativa. Em caso de histórico de câncer de mama no passado, doenças do fígado, enxaqueca com aura, lúpus ou trombofilias, a equipe avalia risco e benefício de forma individual.
Medicamentos que podem reduzir a eficácia: alguns anticonvulsivantes (como carbamazepina e fenitoína), antituberculostáticos (rifampicina), certos antirretrovirais e fitoterápicos como a erva-de-são-joão. Se você usa esses remédios, avise a UBS. A equipe pode sugerir outro método ou orientar proteção adicional.
Efeitos colaterais mais comuns: alteração do padrão de sangramento (pode reduzir, ficar irregular ou cessar), dor de cabeça, sensibilidade mamária, acne, oscilação de humor e dor local nos primeiros dias. Sangramento irregular é o motivo mais frequente de desistência, mas costuma melhorar com o tempo e pode ser manejado com medicação pontual orientada pela equipe. Se houver dor intensa, febre, secreção no local, falta de ar, dor no peito ou sintomas incomuns, procure atendimento.
Passo a passo para conseguir o implante no SUS:
- Procure sua UBS e peça acolhimento em planejamento reprodutivo.
- Converse sobre suas opções, riscos e benefícios. Leve a lista de remédios que usa e suas dúvidas.
- Se optar pelo implante, siga as orientações para o dia do procedimento. Em alguns locais, pode haver fila de espera no início da oferta.
- Guarde a carteirinha ou anotação com a data de inserção e de retirada prevista (em até 3 anos).
Para quem está no pós-parto ou após um aborto, a avaliação é individual. Em muitos casos, o implante pode ser inserido nessas janelas de cuidado, o que evita novo risco de gestação não planejada. Quem deseja engravidar em curto prazo pode preferir métodos de curta duração; quem quer adiar por alguns anos tende a se beneficiar do implante.
O impacto financeiro é direto para as famílias e indireto para o sistema de saúde. O método, embora tenha custo unitário relevante, evita despesas associadas a gestações não planejadas, internações por complicações e partos prematuros. Para a mulher, elimina um gasto alto na rede privada e reduz idas frequentes ao serviço, o que pesa menos no bolso e no tempo.
Profissionais de saúde destacam que ampliar o acesso a métodos reversíveis de longa duração aumenta a autonomia sobre o próprio corpo. Não se trata de empurrar um método, mas de garantir que ele esteja disponível ao lado de DIU, pílulas, injeções, adesivos e preservativos. A escolha é da usuária, com informação clara e acompanhamento próximo.
O Brasil já tem experiência com ampliação de métodos como o DIU em redes municipais. A chegada do implante via SUS deve repetir esse caminho, com protocolos de inserção e retirada, registro do número de lote e monitoramento de eventos adversos. Transparência nos dados e abastecimento regular vão ser decisivos para evitar descontinuidade.
Se você pretende pedir o implante, um conselho prático: marque a conversa na UBS com antecedência e pergunte sobre o cronograma local. No início, a procura deve ser alta. Leve suas dúvidas anotadas. Informe-se sobre efeitos, manejo de sangramento e situações em que buscar ajuda. Informação boa reduz ansiedade e aumenta a satisfação com o método.
Resumindo o que muda: a partir de outubro, um contraceptivo de alta eficácia, antes inacessível para muita gente, entra no cardápio do SUS. Com compra nacional prevista até 2026, treinamento de equipes e foco em quem mais precisa, a política tem potencial para reduzir gravidez não planejada e melhorar desfechos de saúde. O próximo passo é a execução no dia a dia das unidades.