ESA cria primeiro eclipse solar artificial no espaço e revela imagens inéditas da coroa solar

ESA cria primeiro eclipse solar artificial no espaço e revela imagens inéditas da coroa solar

A Agência Espacial Europeia (ESA) acabou de mudar o jogo na astronomia solar. Em 16 de junho de 2025, durante o Paris Air ShowParis, a agência divulgou as primeiras imagens de um fenômeno antes considerado impossível: um eclipse solar total artificial criado no espaço. A missão Proba-3, lançada em 5 de dezembro de 2024 da Índia, conseguiu bloquear intencionalmente a luz do Sol com dois satélites voando em perfeita sincronia — e o resultado é tão nítido que parece ter sido tirado durante um eclipse natural. Isso não é efeito especial. É ciência real. E ela pode revolucionar o que sabemos sobre o Sol.

Uma dança espacial de precisão milimétrica

A missão Proba-3 não usa um único satélite. Ela usa dois. Um, chamado Occulter, carrega um disco de 1,4 metro de diâmetro — uma sombra artificial. O outro, o Coronagraph, flutua exatamente 150 metros atrás, como se fosse um observador de olhos fixos. Juntos, eles formam um sistema de sombra que projeta uma sombra de apenas 8 centímetros sobre o sensor do segundo satélite. É como se a Lua tivesse sido miniaturizada e colocada em órbita, só que controlada por humanos. A órbita é altamente elíptica, variando entre 600 km e 60.000 km da Terra, para minimizar o arrasto atmosférico e garantir estabilidade. Cada órbita leva 19,6 horas — e durante seis delas, os satélites criam um eclipse total.

Desde março de 2025, já foram realizados 10 eclipses artificiais com sucesso. Nenhum deles durou apenas minutos, como os naturais. Eles duram horas. E isso é a chave.

Por que seis horas importam mais que seis segundos

Os eclipses solares naturais são raros. A Lua precisa estar exatamente na posição certa, a Terra na outra, e o alinhamento perfeito acontece, em média, uma vez a cada 18 meses. E mesmo assim, o total só dura alguns minutos — no máximo sete. Isso limita drasticamente o tempo que os cientistas têm para observar a coroa solar, a atmosfera externa do Sol que emite luz tênue, invisível sob o brilho intenso do disco solar. A coroa é o que causa tempestades solares, que podem derrubar satélites, interromper redes elétricas e afetar comunicações globais. Mas estudá-la antes era como tentar ver uma vela ao lado de um holofote.

Agora, com o Proba-3, os cientistas têm seis horas contínuas por órbita. Seis horas. Sem pressa. Sem pressa de capturar dados. Sem medo de perder o momento. O instrumento ASPIICS — desenvolvido pelo Observatório Real da Bélgica (ROB) — já registrou estruturas da coroa que nunca antes foram vistas com tanta clareza. Cada imagem é composta por três exposições diferentes: uma para as regiões brilhantes, outra para as intermediárias, e uma terceira para as mais tênues. É como tirar uma foto de um pôr do sol com e sem filtro, mas em escala solar.

As vozes por trás da conquista

"Nossas imagens do 'eclipse artificial' são comparáveis às obtidas durante um eclipse natural", afirmou Andrei Zhukov, investigador principal do ASPIICS no Observatório Real da Bélgica. Ele não exagera. As imagens mostram filamentos de plasma, jatos magnéticos e ondas de choque — detalhes que antes só eram visíveis em simulações ou em fragmentos de dados coletados durante eclipses reais.

Dietmar Pilz, diretor de tecnologia da ESA, chamou o feito de "a primeira missão de voo de formação de precisão do mundo". "É emocionante ver essas imagens impressionantes validarem nossas tecnologias", disse ele. A missão não foi só um teste de engenharia. Foi um teste de confiança. Os satélites operam de forma autônoma, ajustando sua posição em tempo real com base em algoritmos criados especialmente para isso. Nenhum controle manual. Nenhuma correção da Terra. Eles dançam, sozinhos, no vazio.

Um novo capítulo na linha Proba

A ESA não começou do zero. O projeto Proba — que significa "Project for On-Board Autonomy" — já tinha um histórico de sucesso. A Proba-1, lançada em 2001, foi uma das primeiras missões de pequeno porte com alta autonomia. A Proba-2, em 2009, monitorou o clima espacial. Mas o Proba-3 é diferente. É o primeiro a exigir que dois corpos se movam como um só, com precisão de milímetros, em uma órbita instável. Toda a tecnologia de navegação, comunicação e controle de formação foi desenvolvida especialmente para este projeto. E funcionou.

As observações são processadas no Centro de Operações Científicas do ASPIICS, em Bruxelas, onde cientistas de todo o mundo enviam pedidos de observação. Os dados são abertos — qualquer pesquisador pode acessá-los. Isso não é apenas uma conquista técnica. É uma mudança de cultura na astronomia.

O que vem a seguir

As observações científicas completas devem começar oficialmente em julho de 2025, quando a missão atingir seu ponto ótimo: seis horas contínuas de eclipse por órbita. Mas já há planos. A ESA estuda a possibilidade de replicar a técnica com mais satélites — talvez até três, formando um "telescópio espacial de formação" ainda mais poderoso. O objetivo final? Entender como o Sol gera erupções, como essas erupções afetam a Terra e, quem sabe, prever tempestades solares com dias de antecedência.

Isso tudo foi feito com um investimento de 210 milhões de dólares — um valor modesto comparado a missões tripuladas ou grandes telescópios. Mas o retorno pode ser incalculável. Porque agora, pela primeira vez, não precisamos esperar pela Lua para ver o Sol.

Frequently Asked Questions

Como o eclipse artificial é criado sem a Lua?

O satélite Occulter bloqueia a luz solar com um disco de 1,4 metro de diâmetro, enquanto o Coronagraph, posicionado 150 metros atrás, capta a sombra projetada. Isso simula exatamente o alinhamento da Lua entre o Sol e a Terra, mas de forma controlada e repetível, sem depender de fenômenos naturais.

Por que estudar a coroa solar é tão importante?

A coroa solar é a fonte de vento solar e erupções que podem danificar satélites, redes elétricas e sistemas de comunicação na Terra. Entender sua dinâmica ajuda a prever tempestades solares, protegendo infraestruturas críticas e garantindo a segurança de missões espaciais futuras.

Quem tem acesso aos dados das imagens?

Todos. Os dados gerados pelo ASPIICS são abertos e disponibilizados globalmente. Pesquisadores de universidades, institutos e agências espaciais de qualquer país podem solicitar observações e acessar os arquivos, promovendo colaboração internacional em tempo real.

Qual a diferença entre o Proba-3 e os telescópios solares tradicionais?

Telescópios tradicionais usam filtros que ainda deixam passar luz residual, obscurecendo detalhes da coroa. O Proba-3 elimina a luz diretamente com um disco, criando um eclipse artificial que permite ver regiões da coroa até 100 vezes mais fracas do que antes — algo impossível com qualquer outro método.

O que acontecerá após os dois anos da missão?

Se bem-sucedida, a missão Proba-3 servirá como modelo para futuras missões de formação de satélites. A ESA já planeja testes com três ou mais satélites, criando telescópios espaciais modulares. A tecnologia também pode ser adaptada para observar outros corpos celestes, como Júpiter ou estrelas distantes.

Por que a missão foi lançada da Índia?

A Índia, por meio da ISRO, oferece lançamentos confiáveis e de baixo custo para missões científicas internacionais. O foguete PSLV foi escolhido por sua precisão e capacidade de colocar cargas em órbitas altas, sendo uma parceria estratégica entre a ESA e a agência espacial indiana.