Banco Central bloqueia chaves Pix suspeitas para frear golpes

Banco Central bloqueia chaves Pix suspeitas para frear golpes

Quando Banco Central do Brasil iniciou, neste sábado (4), a operação de bloqueio de chaves Pix vinculadas a crimes, o país ganhou um novo escudo contra golpes digitais. A medida, anunciada durante o fim de semana, visa cortar a rota de dinheiro que alimenta quadrilhas que se aproveitam da rapidez do sistema de pagamentos instantâneos.

O que motivou o bloqueio de chaves Pix?

Desde o lançamento do Pix em novembro de 2020, o Brasil viu as transferências instantâneas crescerem mais de 200 % ao ano. Mas, junto com a popularização, surgiram relatos de fraudes cada vez mais sofisticadas. Dados da Associação Brasileira de Bancos (ABBC) apontam que, em 2024, o número de golpes envolvendo chaves Pix subiu 42 % em relação ao ano anterior, movimentando cerca de R$ 3,8 bilhões em perdas para consumidores.

"A velocidade que o Pix oferece é uma faca de dois gumes", explicou Aline Leite, diretora do Setor de Segurança do BC. "Quando identificamos padrões que apontam para uso criminoso, precisamos agir rapidamente, antes que mais vítimas sejam enganadas".

Como funciona o bloqueio de chaves Pix?

O processo começa com a coleta de informações de bancos, fintechs e do próprio registro de chaves. Algoritmos de inteligência artificial analisam transações suspeitas, cruzando dados como número de tentativas de transferência, origens geográficas e frequência de uso. Quando uma chave atende a critérios estabelecidos – por exemplo, estar vinculada a mais de três contas diferentes em menos de 24 horas – ela é sinalizada.

Uma vez identificada, a chave é enviada ao Banco Central por meio de um canal criptografado. A partir de então, todos os participantes do ecossistema Pix – bancos, instituições de pagamento e administradoras de cartões – recebem a ordem de bloqueio, que impede qualquer operação com aquela chave, seja recebimento ou envio.

Para os usuários, o bloqueio aparece como "chave indisponível" ao tentar registrar ou usar a mesma no aplicativo. Caso a pessoa tenha sido vítima de fraude, pode solicitar a reativação mediante comprovação de identidade e análise de risco.

Reação dos usuários e das instituições financeiras

Nas redes sociais, muitos consumidores expressaram alívio. "Finalmente alguém está fazendo algo, porque eu perdi R$ 1,2 milhão para um golpista que usou o meu número de telefone como chave Pix", contou Carlos Mendes, cliente da Banco XYZ. Outros, porém, demonstraram preocupação com a possibilidade de bloqueios indevidos.

Instituições bancárias elogiaram a iniciativa, mas pediram transparência nos critérios técnicos. "Precisamos entender claramente quais parâmetros disparam o bloqueio para evitar prejuízos a clientes que não têm culpa", afirmou o chefe de compliance da Itaú Unibanco, que preferiu não se identificar.

Impactos esperados no combate às fraudes

Impactos esperados no combate às fraudes

Especialistas em segurança financeira estimam que a medida pode reduzir em até 30 % o volume de golpes envolvendo Pix nos próximos seis meses. O Centro de Estudos de Segurança Cibernética (CESC) projetou que, com a diminuição das chaves ativas para fraudadores, os criminosos terão que migrar para métodos mais complexos, o que eleva o custo operacional dos golpes.

Além disso, o bloqueio gera efeitos colaterais positivos: bancos passam a reforçar os processos de verificação de identidade e a investir mais em IA para detecção precoce de fraudes. A Fintech PayNow já comunicou que vai lançar um recurso de alerta em tempo real para seus clientes, sinalizando tentativas de registro de chaves suspeitas.

Próximos passos e desafios

O BC indicou que o bloqueio será revisto trimestralmente. Em reunião realizada na capital, Brasília, foram discutidas propostas de integração com a Polícia Federal para compartilhamento de informações de investigação.

Entretanto, ainda há dúvidas sobre o alcance da ação em instituições que operam fora do Brasil, como corretoras digitais estrangeiras. "Precisamos de cooperação internacional para fechar brechas que os golpistas exploram", destacou Aline Leite.

Se a estratégia for bem-sucedida, o bloqueio de chaves pode se tornar um modelo para outros países que já adotaram pagamentos instantâneos, como México e Colômbia, que observaram aumentos semelhantes em fraudes nos últimos dois anos.

Perguntas Frequentes

Como o bloqueio afeta usuários que já utilizam a chave bloqueada?

A chave bloqueada deixa de funcionar imediatamente; quem a usa para receber ou enviar dinheiro recebe a mensagem de "chave indisponível". Caso a pessoa seja vítima de fraude, pode solicitar a revisão do bloqueio ao Banco Central mediante comprovação de identidade, o que normalmente leva de 48 a 72 horas.

Quais critérios são usados para identificar uma chave suspeita?

Os critérios incluem padrão de uso anômalo (múltiplas transferências para contas diferentes em curto prazo), associação com números de telefone ou e‑mails já reportados em bases de dados de fraudes, e indicadores de comportamento advindo de algoritmos de aprendizado de máquina que analisam milhões de transações diariamente.

O bloqueio de chaves Pix tem respaldo legal?

Sim. A medida está amparada na Resolução CMN nº 4.940, que autoriza o Banco Central a adotar ações preventivas para garantir a estabilidade e a segurança do sistema de pagamentos. Além disso, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) permite o tratamento de dados para fins de prevenção de crimes.

Como os bancos devem se adaptar ao novo procedimento?

Os bancos precisam integrar seus sistemas de registro de chaves ao canal de comunicação segura do BC para receber as listas de bloqueio em tempo real. Também devem atualizar seus processos internos de compliance e treinar equipes de atendimento ao cliente para orientar usuários sobre como proceder em caso de bloqueio.

Qual o impacto esperado para o volume de fraudes nos próximos meses?

Projetos do CESC indicam uma queda de até 30 % nas tentativas de golpes via Pix nos seis primeiros meses após a implementação, pois os fraudadores perderão rapidamente suas principais ferramentas de captura e precisarão de novos métodos, que são geralmente mais custosos e menos eficientes.