Antonio Cícero e Seu Impacto Inapagável na Cultura Brasileira
Antonio Cícero, um dos nomes mais notáveis da arte e cultura brasileira, deixou o mundo terreno em Zurique, na Suíça, no dia 23 de outubro de 2024. Aos 79 anos, ele enfrentava os desafios de um diagnóstico de Alzheimer, desafio que o levou a tomar a difícil decisão de recorrer ao suicídio assistido, como é permitido no país europeu. A partida de Cícero é um golpe profundo para a literatura e a música do Brasil, mas o legado que ele deixa é vasto e continuará a ser celebrado por aqueles que foram tocados por sua arte.
Cícero era membro ilustre da Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a cadeira de número 27, onde sua presença era tão constante quanto a própria palavra. Conhecido pela sua influência na música brasileira, ele deixou sua marca em canções que ressoam até hoje na voz de ícones como Lulu Santos e Maria Bethânia. A parceria com sua irmã, a cantora e compositora Marina Lima, resultou em sucessos como "Fullgás" e "Pra começar", colocando suas palavras em um local de destaque na MPB.
Escritor, Filósofo e Crítico Admirado
Antonio Cícero não se limitou à música; sua contribuição literária é igualmente prodigiosa. Entre suas obras mais aclamadas estão "O Mundo Desde o Fim", "Guardar", "A cidade e os livros" e "Finalidades sem fim". Essas publicações não são apenas testemunhos de sua habilidade com a palavra escrita, mas também da profundidade do seu pensamento filosófico e crítico.
Cícero viajou à Europa acompanhado de seu parceiro, Marcelo Fies, com a intenção declarada de buscar a morte digna através do suicídio assistido. Pelo menos uma despedida planejada é consoladora, ele parou em Paris, uma cidade que admirava e com a qual desejava se despedir pessoalmente. Cícero deixou uma carta para ser compartilhada com seus amigos após sua morte, manifestando assim seu último adeus àqueles que o amavam.
Homenagens dos Admiradores e Amigos
A notícia de sua morte causou uma onda de comoção e homenagens por parte de artistas e figuras públicas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou Cícero nas redes sociais, ressaltando-o como um "imortal" da ABL. Adriana Calcanhoto compartilhou um vídeo emocionante com um abraço em Cícero e uma mensagem sentida de despedida. Frejat, por sua vez, postou uma das músicas que colaboraram, elogiando sua genialidade e charme. As reações emocionadas refletem o carinho e a admiração que Cícero inspirou durante toda a sua vida.
Um Adeus Memorável da Academia Brasileira de Letras
Em reconhecimento ao impacto duradouro de Cícero, a Academia Brasileira de Letras cancelou todas as atividades até quinta-feira, momento em que realizariam uma "Sessão da Saudade" em tributo ao poeta. Esses encontros são uma tradição significativa dentro da academia, representando uma oportunidade de os membros refletirem e celebrarem as contribuições daquele que partiu. A morte de Cícero também serve como um lembrete da importância de oferecer suporte em saúde mental. Recursos como o Centro de Valorização da Vida (CVV) e o Sistema Único de Saúde (SUS) são mencionados como formas de assistência gratuita para aqueles que precisam de apoio emocional.

Reflexões Sobre a Escolha de Morte Assistida
O suicídio assistido de Antonio Cícero na Suíça coloca uma questão complexa de vida e morte no debate público. Em países como o Brasil, onde essa prática não é permitida, a decisão do poeta reacende o diálogo sobre o direito de escolha ao final da vida. Cícero optou por esta saída com o objetivo de manter algum controle frente à devastação causada pelo Alzheimer, uma doença progressiva e cruel, que rouba a mente e a identidade em seus estágios avançados. A escolha por Paris como local de despedida antes de sua morte na Suíça foi uma ode à sua paixão pela cultura e pela beleza, um último tributo pessoal à cidade que tanto admirava.
Na carta que deixou para os amigos, Cícero possivelmente compartilhou suas últimas reflexões e desejos, um gesto final de comunicação de um homem que dedicou sua vida à palavra. Este evento deve inspirar mais discussões sobre as leis e práticas referentes ao final da vida, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, à medida que a sociedade confronta questões éticas e morais sobre autonomia pessoal e dignidade no final da vida. Cícero, em suas múltiplas facetas como poeta, letrista, escritor e filósofo, sabia como lidar com a complexidade das emoções humanas e caminhou até o final com a serenidade e a graça de um verdadeiro artista.