Na segunda‑feira, 13 de outubro de 2025, a Faixa de Gaza vivenciou o cessar‑fogo de terceiro dia entre Israel e Hamas, marcado pela libertação dos últimos 20 reféns israelenses vivos e pela assinatura formal de um acordo de paz na cidade egípcia de Sharm El‑Sheikh. O pacto, mediado pelos Estados Unidos, Egito, Catar e Turquia, promete, pela primeira vez em dois anos de guerra, um respiro humanitário e um roteiro político ainda incerto.
Contexto histórico do conflito
Desde o ataque coordenado por Hamas em outubro de 2023, que sequestrou 251 civis israelenses, o confronto se espalhou por toda a região, cobrando mais de 65 mil mortes palestinas e gerando deslocamentos massivos. A ocupação israelense avançou, passando a controlar cerca de 75% do território da Faixa, enquanto a infraestrutura civil ficou quase totalmente destruída.
Em 2024, duas tentativas de cessar‑fogo foram frustradas por denúncias de violações de ambos os lados. O terreno estava fadado a permanecer um campo de batalha até que forças externas, principalmente Washington, encontrassem um ponto de equilíbrio que agradasse tanto o aparelho militar israelense quanto o comando de Hamas.
Detalhes da trégua e da troca de prisioneiros
O acordo, anunciado na madrugada de 12 para 13 de outubro, prevê duas fases principais. Na primeira, Hamas liberou os últimos 20 prisioneiros israelenses ainda vivos, conforme informou Osama Hamdan, alto funcionário do movimento. A libertação começou pela manhã e será seguida pela entrega dos corpos de 28 reféns mortos.
Em contrapartida, Israel iniciou a soltura de quase 2 mil palestinos detidos. O plano inclui a liberação de 250 presos por "segurança nacional" e mais 1.700 indivíduos mantidos desde o início da ofensiva em 2023. Essa troca, que representa aproximadamente 8% do total de palestinos presos, tem um objetivo duplo: aliviar a pressão humanitária e criar capital político para avançar nas próximas negociações.
O chefe do Estado‑Maior das Forças de Defesa de Israel, no discurso transmitido ao vivo, afirmou que as tropas recuaram para uma linha acordada, reduzindo a ocupação de Gaza de 75% para 53% do território. Ele ainda exortou os comandantes a manterem "alta prontidão" para qualquer eventualidade, sobretudo porque o desarmamento completo do Hamas não foi garantido.
Cúpula de paz em Sharm El‑Sheikh
A assinatura oficial aconteceu no luxuoso hotel Sheraton da cidade costeira, diante de mais de 20 chefes de Estado. O documento foi assinado por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, Abdel Fattah al‑Sisi, presidente do Egito e Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia. Também assinaram o emir Tamim bin Hamad Al Thani, chefe de Estado do Catar e o secretário‑geral da ONU, António Guterres.
Entre os convidados estavam ainda o primeiro‑ministro britânico Keir Starmer, o presidente francês Emmanuel Macron, o presidente do governo espanhol Pedro Sánchez e a primeira‑ministra italiana Giorgia Meloni. A presença de representantes de quatro potências mediadoras reforçou a percepção de que o acordo tem força diplomática, ainda que Israel e Hamas tenham ficado fora da cerimônia.
Durante a sessão, o presidente Trump declarou: "Juntos, conseguimos fazer o que todos disseram que era impossível. A reconstrução de Gaza começa agora." O discurso, carregado de otimismo, serviu tanto para marcar o fim imediato das hostilidades quanto para anunciar a segunda fase do plano de paz, que inclui a criação de um conselho administrativo internacional para supervisionar a reconstrução.

Reações e desafios de implementação
Os primeiros dias após o cessar‑fogo revelaram tensões latentes. Enquanto milhares de palestinos começaram a retornar às casas devastadas – como relata Fatima Salem, de 38 anos, que descreveu o cenário como "escombros onde antes havia cheiro de pão recém‑assado" – alguns moradores de Khan Yunis relataram saques de caminhões de ajuda. Mohamed Zarab, local, gritou: "Não queremos viver em uma selva, exigimos distribuição digna da ajuda".
O Programa Mundial de Alimentos anunciou a ampliação da distribuição de alimentos para 500 mil pessoas, e os EUA formaram uma força‑tarefa para coordenar a logística humanitária. Entretanto, especialistas alertam que o fluxo de recursos ainda depende da estabilidade da linha de cessar‑fogo, que pode ser testada por facções armadas menores que não fizeram parte das negociações.
Um ponto crítico permanece: o desarmamento do Hamas. Em entrevista à Al‑Jazeera, um porta‑voz do grupo afirmou que a desmilitarização está "fora de questão". Sem garantias de que o movimento entregará suas armas, a comunidade internacional teme uma recaída em violência intermitente.
Além disso, a futura governança de Gaza ainda não foi definida. A proposta americana preconiza um governo de transição supervisionado por um comitê internacional, mas Hamas já declarou que não participará de nenhum governo que não reconheça sua autoridade sobre o território. Essa disputa pode gerar um vácuo de poder que grupos extremistas estejam dispostos a explorar.
Perspectivas humanitárias e de reconstrução
O projeto de reconstrução, estimado em US$ 12 bilhões, será financiado por doações multilaterais, além de um fundo de reconstrução criado na cúpula. Engenheiros israelenses já começaram a avaliar a viabilidade de reabrir corredores de energia e água, enquanto agências da ONU preparam planos para a reconstrução de escolas e hospitais.
- Meta: restaurar 80% da infraestrutura básica até o final de 2026.
- Investimento-chave: 3 bilhões de dólares em energia elétrica e saneamento.
- Participação: 55% de fundos internacionais, 25% de contribuições israelenses, 20% de agências palestinas.
Para os cidadãos que ainda vivem em abrigos temporários, a esperança está mesclada a um medo persistente. Conforme relatado por pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, o retorno massivo pode gerar novos focos de tensão se a distribuição de recursos não for transparente.
O caminho à frente ainda está longe de ser tranquilo, mas o cessar‑fogo marca, ao menos, uma pausa que permite à comunidade internacional respirar e avaliar como transformar promessas em ações concretas.

Próximos passos e o que observar
Os analistas monitorarão quatro indicadores nas próximas semanas:
- Respeito ao corredor humanitário estabelecido entre Israel e Gaza.
- Progresso nas negociações sobre o desarmamento do Hamas.
- Implementação do conselho internacional de reconstrução.
- Reação das facções armadas menores ao redor da Faixa.
Se esses pontos avançarem, a trégua pode se transformar em um acordo permanente. Caso contrário, o espectro de um novo ciclo de violência ainda paira sobre a região.
Perguntas Frequentes
Como a troca de prisioneiros afeta a população civil em Gaza?
A libertação dos 20 reféns israelenses e a liberação de quase 2 mil palestinos reduzem a tensão psicológica entre famílias separadas. Contudo, a vitória é parcial: ainda há centenas de detidos e a ajuda humanitária permanece insuficiente, o que mantém a população vulnerável a novas ondas de violência.
Qual é o papel dos Estados Unidos na implementação do acordo?
Washington, através do presidente Donald Trump, lidera a coordenação diplomática, financiando a força‑tarefa humanitária e supervisionando o fundo de reconstrução de US$ 12 bilhões. O governo americano também garante que Israel respeite a linha de cessar‑fogo.
O que impede o desarmamento imediato do Hamas?
O Hamas vê suas armas como garantia de sobrevivência política. Sem garantias de um governo de transição que respeite suas prerrogativas, o movimento considera o desarmamento "fora de questão". A comunidade internacional ainda não conseguiu oferecer substitutos de segurança que convencem o grupo.
Quais são os principais desafios para a reconstrução de Gaza?
Além da destruição física – 80% das casas danificadas – há questões de financiamento, acesso seguro a materiais e coordenação entre múltiplas agências. A instabilidade política e a possibilidade de retomada de hostilidades podem atrasar os prazos estabelecidos para 2026.
Como a comunidade internacional reagiu ao acordo?
A reação foi mista: enquanto países europeus saudaram a iniciativa como "passo histórico", movimentos pró‑Palestina em Sydney protestaram, exigindo garantias mais sólidas. A ONU destacou que a implementação prática será o verdadeiro teste.